07/12/2021 - 09h41

Setor imobiliário resiliente

A Tribuna On-line - Editorial
 
Há demanda por moradias, os bancos mantêm suas carteiras de crédito e as construtoras reduziram estoques
 
Assim como outros setores da economia, o imobiliário também se encontra pressionado pelos juros altos, inflação e a recessão técnica (técnica porque o País tem dois trimestres seguidos de queda do PIB, o segundo e terceiro). Entretanto, há demanda nos mercados, da baixa à média e alta renda, os bancos mantêm suas carteiras de crédito abertas e as construtoras conseguiram reduzir os estoques, se capitalizaram e melhorarem a gestão, segundo live da consultoria Brain em reportagem do jornal Valor. O quadro não é de um País em expansão econômica e parte dos potenciais compradores de imóveis, devido ao desemprego e à redução da renda como efeitos negativos da covid-19, está fora do mercado consumidor. Mas as operações imobiliárias e a tomada de empréstimos continuam girando.
 
Os fatores decisivos para o mercado imobiliário são crédito e inflação – esta última porque interfere nos custos da construção e pressiona os preços dos imóveis novos. De janeiro até agora, a taxa Selic subiu de 2% ao ano para 7,75%. Desde então, conforme o repórter Junior Batista apurou em várias matérias ao longo dos meses, os bancos, tanto a Caixa quanto os privados, pouco alteraram os juros, às vezes mantendo a taxa de uma linha e subindo as das outras, mas não no mesmo ritmo da Selic. Geralmente, há uma espera de seis meses para os mercados incorporarem uma nova Selic. Por outro lado, aparentemente houve mais concorrência, com as instituições privadas disputando a classe média.
 
Por isso, nos próximos meses os juros do crédito imobiliário podem subir e as empresas, repassarem a inflação dos materiais. Mas também há muita disputa nesse lado e ainda a disponibilidade de estoque e usados, o que confere opções mais em conta aos compradores.
 
Já a live da Brain trouxe a questão da habitação popular, que ainda não engrenou. O programa Casa Verde e Amarela não tem recursos para subsidiar a moradia da baixa renda – sem essa injeção estatal, historicamente as famílias mais pobres não conseguem destinar parte de suas rendas à prestação imobiliária. Paralelamente, se o desemprego continuar em queda, mesmo que lentamente como agora, haverá um número maior de candidatos a mutuário dispostos a fechar negócio. Na economia popular, observa-se que o brasileiro muitas vezes toma sua decisão com base no tamanho da prestação e se ela cabe no bolso, sem pesar que os juros subiram, uma forma pragmática de viver em um país instável. E na alta renda, construtores esperam uma demanda mais forte no segundo semestre de 2022.
 
Essa recuperação em todas as frentes depende dos juros e a inflação começarem a cair antes do fim do primeiro semestre. A retomada, que era prevista para o fim de 2020 e que até agora não se consumou, ainda estará sujeita à tensão com as eleições e à recuperação mundial. Enquanto isso, empresas e consumidores terão que aproveitar brechas para atingir suas metas.
 
« Voltar