11/06/2018 - 00h07

Setor de construção aposta em austeridade para melhorar investimentos

Agência Brasil
 
A retração do setor de infraestrutura verificada na Pesquisa Anual Indústria da Construção 2016 (Paic), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada na última sexta-feira (8), não surpreendeu empresários do setor. O presidente do Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada (Sinicon), Evaristo Pinheiro, disse à Agência Brasil que já vinha alertando a sociedade e o governo federal sobre esse quadro e avalia que os principais responsáveis são a crise fiscal do país e a insegurança jurídica para investidores.
 
“A gente teve um pico histórico de faturamento em 2014. O foco da pesquisa do IBGE é de 2015 para cá, mas o pico mesmo de faturamento foi 2014. De lá pra cá, nós perdemos, só na infraestrutura de construção pesada, mais de 600 mil empregos. Isso equivale a voltar ao mesmo nível de emprego de 2007. Ou seja, 11 anos para trás”, apontou. Ele destaca que isso representa 5% do desemprego gerado no Brasil nesse período e que se fossem considerados os empregos indiretos, tendo em vista que se trata de uma cadeia de ponta, o número seria ainda maior.
 
Os dados da pesquisa indicam que, entre 2007 e 2016, houve uma queda da participação das obras de infraestrutura no valor da indústria de construção, que passaram de 45,6% em 2007 para 29,5%. Por outro lado, cresceu a participação da construção de edifícios (de 39,7% para 45,9%); e dos serviços especializados (de 19% para 24,6%).
 
Causas
 
Para Pinheiro, não há um único fator que explique a queda de investimento, mas ele destaca a crise fiscal e a insegurança jurídica. “[A crise fiscal] implicou uma redução, por exemplo, de investimento público em infraestrutura. Só no PAC [Programa de Aceleração do Crescimento], por exemplo, no pico histórico em 2014, nós tínhamos R$ 70 bilhões por ano de investimento. No ano passado tivemos R$ 17 bilhões. Os investimentos das empresas estatais ano passado atingiram o menor nível desde que essa série histórica começou a ser medida na década de 1990”, apontou.
 
O presidente do Sinicon avalia que a este cenário se soma um ambiente de insegurança jurídica que “afugenta o investidor privado”. “Ele não sabe se vai conseguir concluir as obras, em quanto tempo e qual retorno vai ter. Se ele vai conseguir entregar para os seus acionistas, os seus investidores, o retorno que foi pactuado, dada a instabilidade de regras aqui no Brasil e a instabilidade política”, avaliou. 
 
Pinheiro aposta nas políticas de austeridade econômica do governo federal para liberar recursos para investimento. “Corte de gasto corrente, melhor planejamento do gasto, priorização de projetos do que é importante é fundamental. Mas esse trabalho não está completo ainda”, apontou. Ele propõe ainda a manutenção da taxa básica de juros no nível atual ou ainda mais baixo. “O governo começou com o trabalho do teto de gastos, mas essa medida sozinha é um problema, não é solução”, avaliou. Entre as medidas necessárias, o representante do Sinicon indica a aprovação da reforma da Previdência.
 
A Agência Brasil procurou o Ministério da Fazenda, mas não obteve retorno até a publicação da reportagem.
 
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