27/05/2022 - 10h49

Queda na alíquota de importação do aço reduz preços no Brasil

Valor Econômico
 
Flexibilização na tarifa do produto importado levou siderúrgicas brasileiras a recolher do mercado tabela com aumento de 15%, dando fôlego à indústria da construção civil
 
A estabilização do pre-ço do aço longo no mercado brasileiro — resultado da redução da tarifa de importação do vergalhão de 10,8% para 4% — está sendo comemorada pelo setor de construção civil. A flexibilização do imposto levou as siderúrgicas brasileiras a recolher do mercado uma tabela com aumento de 15% nos preços, que já vigorava desde o início de maio, o que traz fôlego novo para a indústria da construção.
 
O produto é apontado como o de maior impacto no aumento dos custos do setor. No caso de um prédio de apartamentos de quatro andares, sem elevador, com cerca de 800 metros quadrados, é de 34%. “A redução da tarifa de importação ajuda a melhorar o ambiente de negócios no Brasil. O valor do aço aumentou 101% nos últimos dois anos e tem influenciado os custos da construção”, afirma Luiz França, presidente da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc).
 
É consenso no setor que a redução na alíquota permitirá um alívio nos custos. Mas, de qualquer forma, a importação do produto é uma operação bastante complexa. O vice-presidente de Economia do Sinduscon-SP, Eduardo Zaidan, ressalta que a indústria de construção no Brasil usa o aço longo com especificações diferentes das do padrão mundial. “Existe essa barreira técnica, temos que mandar fabricar o aço dentro de uma especificação só utilizada pelo mercado brasileiro."
 
Os aumentos no preço do insumo eram um grande entrave ao crescimento do setor, avalia o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), José Carlos Martins. “Era necessário provocar um choque de oferta, com estímulos à entrada do insumo importado no mercado brasileiro para reduzir preços e prazos de entrega”, afirmou.
 
O empresário defende uma rotina de importação, ressaltando que a indústria da construção não tem tradição na compra do vergalhão de aço no mercado externo. “Não existem canais de distribuição para a entrega do produto”, critica Martins.
 
No ano passado, foi organizado um grupo de 140 incorporadoras para importar duas cargas de vergalhão de aço da Turquia para o Brasil. Foram cerca de 40 mil toneladas adquiridas por meio da Cbic, em conjunto com uma cooperativa de construção de Santa Catarina. O presidente da entidade lembra que o movimento pressionou as siderúrgicas brasileiras a baixar o preço do produto no fim de 2021.
 
“O maior problema é o fato de a indústria de construção não saber o preço real do aço. Como é possível o minério de ferro sair do Brasil, ir para a Turquia, onde é transformado em aço, e voltar com um preço 15% menor do que o cobrado pelas siderúrgicas brasileiras? E isso ocorre em uma conjuntura de explosão no valor cobrado pelos fretes”, ressalta.
 
Para o sócio-diretor da Inti Empreendimentos Imobiliários, Andre Kiffer, o aumento de mais de 100% no preço do aço nos últimos dois anos vem achatando as margens do setor de construção — como pode ser visto nos balanços das empresas de construção e incorporação imobiliária. “Os resultados estão muito ruins em comparação ao primeiro trimestre do ano passado”, afirma.
 
O problema é mais sentido ainda nas construtoras que atuam no segmento econômico, porque o valor final é tabelado. “Para as empresas que atuam no alto padrão, ainda é possível repassar parte do aumento do custo para os clientes, mas isso também tem um limite, porque não adianta colocar um preço que não vai ser absorvido pelo mercado”, conclui.
 
 
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