07/12/2021 - 09h44

Produção de moradias precisa dobrar no país, segundo especialistas

A Tribuna On-line
 
Brasil constrói até 800 mil unidades da casa própria por ano; demanda anual pode chegar a 1,5 milhão
 
O setor da construção produz metade do necessário para atender a demanda nacional e zerar o deficit de moradias, de acordo com o vice-presidente de Habitação Econômica do Sindicato da Habitação (Secovi), Rodrigo Uchôa Luna.
 
“Em um país em que a demanda anual varia entre 1,3 (milhão) e 1,5 milhão de moradias a indústria produz de 700 (mil) a 800 mil anuais. Neste ano, deve fechar em 600 mil. É um desafio enorme”, afirma Luna.
 
Atualmente, segundo dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV) trazidos por Luna, o deficit habitacional no Brasil é de 8 milhões de moradias.
 
Luna foi um dos participantes da 14ª edição do Congresso Brasileiro da Construção (ConstruBusiness), promovido pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que debateu as fontes de financiamento do setor no dia 29.
 
Segundo o secretário nacional de Habitação do Ministério do Desenvolvimento Regional, Alfredo Eduardo dos Santos, é preciso pensar em alternativas para o financiamento dessas moradias, principalmente daqueles que possuem até dois salários mínimos de renda familiar, que representam 70% do deficit.
 
Uma das alternativas que podem ser estudadas, segundo ele, é o de locação social. Nessa situação, há casas que são locadas para a população de baixa renda e o valor é pago pelo governo integral ou parcialmente. “Recentemente, conheci esse exemplo que tem dado certo na Alemanha, um País desenvolvido e onde 70% das habitações populares são de locação social”, afirma ele.
 
“A política nacional de apoio às políticas locais de locação social consegue atingir mais de 50% do deficit sem a necessidade obrigatória de produzir novas unidades habitacionais”.
 
Mais alternativas
 
Para Rodrigo Ochôa Luna, é uma opção a ser estudada. “Faz sentido. A habitação não se resume a compra e venda. A solução de habitação tem várias vertentes”.
 
Prefeituras de cidades do País têm experimentado o modelo, como é o caso da cidade de Teresópo-lis (RJ) e Aparecida (SP) e das capitais Goiânia e São Paulo. Nesses casos, as famílias são cadastradas e acompanhadas pelas administrações municipais.
 
Custo aumenta
 
Se o aluguel social parece ser uma boa solução para o problema do deficit habitacional, o financiamento da construção deve exigir mais criatividade daqui para frente, segundo os executivos, principalmente à população de baixa renda.
 
“Ficou claro que há programas que deram certo, com subsídios, mas o custo mínimo da construção acelerou e a renda não acompanhou”, afirma o secretário nacional de habitação do Ministério do Desenvolvimento Regional, Alfredo Eduardo dos Santos.
 
Neste ano, a Caixa, que lidera as operações de crédito da habitação no País, deve encerrar o ano com R$ 58 bilhões em financiamentos pelo FGTS através do programa Casa Verde e Amarela (antigo Minha Casa Minha Vida).
 
De acordo com o vice-presidente de Habitação da Caixa, Jair Luis Mahl, o FGTS continua forte, no entanto, o financiamento com recursos da poupança, o Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), ganha cada vez mais espaço - neste ano, os valores financiados com essa fonte devem chegar a R$ 80 bilhões.
 
Essa modalidade é focada na classe média e classe média alta, e financia imóveis até R$ 1,5 milhão. “Continuaremos operando muito forte com o FGTS. Mas, junto ao mercado, também vamos operar mais no SBPE”, diz ele, que admite “pequeno reajuste” nas taxas nessa modalidade.
 
É que nesta semana, o comitê de política monetária (copom), deve subir a taxa básica de juros (Selic) em 1,5 ponto percentual, segundo a aposta de analistas do mercado financeiro, passando dos atuais 7,75%, para 9,25% ao ano.
 
Outra opção levantada pelos executivos durante o fórum foi de fontes do mercado de capitais. Para o superintendente comercial de segmento imobiliário do Itaú BBA, Milton D’Ávila, é preciso, no entanto, garantir mais segurança jurídica ao setor para financiar a construção.
 
“A concorrência é muito importante, inclusive na construção, porém, é preciso permitir mais previsibilidade do setor jurídico”, conta ele, que vê a regularização de distratos um avanço nesse sentido.
 
“Há uma infinidade de opções, como estruturas de fundos imobiliários e prédios sustentáveis. Os recursos livres podem ter o papel que o SBPE tem hoje, mas é preciso segurança e juros mais baixos para que haja uma consolidação maior”, conclui D’Ávila.
 
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