23/10/2018 - 00h23

Investidor aposta em ações de alta renda

Valor Econômico
 
As ações das incorporadoras com atuação no segmento de médio e alto padrão são as que mais se beneficiam da maior probabilidade de que o candidato Jair Bolsonaro (PSL) seja eleito para presidente da República no segundo turno. Na avaliação de analistas, companhias que incorporam imóveis para as rendas média e alta têm a seu favor a expectativa do mercado de que, se eleito, o candidato considerado "pró-mercado" aprovará as reformas, o que possibilitará a retomada do crescimento econômico e o aumento da taxa de emprego. Esses fatores estimulam o consumo e, consequentemente, o lançamentos de projetos.
 
O analista de mercado imobiliário do Santander, Renan Manda, ressalta que as ações de empresas como Cyrela, Even e EZTec se favorecem com a maior visibilidade de que o candidato de direita tem mais chances de ser o próximo presidente. "Há potencial para as ações de empresas do segmento de média e alta renda continuarem a se valorizar", diz Manda, acrescentando que investidores têm migrado de papéis de incorporadoras de baixa renda para o segmento.
 
"Empresas com atuação nas rendas média e alta podem ter um salto de recuperação da rentabilidade muito maior do que as da baixa renda", diz outro analista setorial.
 
Na última semana, as ações da Cyrela tiveram valorização de 5,09% e as da Even tiveram alta de 12,64%. No início da semana, o J.P. Morgan elevou a recomendação das ações da Even de neutra para compra. Segundo o banco, a eleição do "candidato com propostas amigáveis ao mercado" é vista como positiva devido à dependência do setor de financiamento de longo prazo e pode haver redução nas taxas de juros reais de longo prazo. A Cyrela é a top pick do J.P. entre as incorporadoras, seguida por Even.
 
Espera-se que as incorporadoras com atuação nos padrões médio e alto apresentem forte volume de lançamentos no quarto trimestre. Parte dos projetos previstos para serem apresentados no primeiro semestre foram adiados devido à liminar que suspendeu, por quase três meses, o direito que projetos protocolados antes de a nova Lei de Zoneamento ser protocolada pudessem seguir as regras antigas. A greve dos caminhoneiros e a queda da confiança também prejudicaram vendas e desestimularam lançamentos.
 
Nos últimos anos, o segmento de baixa renda - financiado com recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) - foi muito menos afetado, negativamente, pela crise da economia do que o de média e alta renda. Isso se refletiu em forte expansão de companhias como MRV e Tenda, atuantes no programa habitacional Minha Casa, Minha Vida, que não enfrentaram redução de demanda e restrições de crédito das incorporadoras direcionadas para os padrões médio e alto.
 
O mercado espera que o Minha Casa, Minha Vida tenha continuidade independentemente de o próximo presidente ser Bolsonaro ou o candidato petista Fernando Haddad. Mas já se considera que pode haver ajustes no programa em uma eventual gestão do candidato do PSL, o que estimula a migração de posições de empresas de baixa renda para as do segmento de médio e alto padrão. O J.P reduziu a recomendação das ações da Tenda de compra para neutra. Na semana, as ações da MRV tiveram queda de 7,91%, e as da Tenda, desvalorização de 6,55%.
 
Uma das incertezas ainda enfrentadas pelo setor imobiliário é a falta de regulamentação dos distratos, ou seja, dos cancelamentos de vendas. Nos últimos anos, as rescisões afetaram, principalmente, as incorporadoras com atuação no segmento de média e alta renda. O repasse dos recebíveis dos clientes para os bancos ocorre na planta no caso dos empreendimentos enquadrados no Minha Casa, Minha Vida, o que torna o segmento muito menos sensível ao risco de distratos.

 
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