17/09/2021 - 08h30

Inovações na construção civil e a barreira cultural brasileira

GMC Online / Allan Cardoso*

Novos métodos construtivos que oferecem agilidade, baixo custo e menos resíduos são o sonho de qualquer pessoa que deseja ter um imóvel, seja para morar ou investir.
 
Infelizmente, apesar de os imóveis pré-fabricados já serem realidade no mercado da construção civil mundial, ainda vai percorrer um longo e lento caminho no Brasil, onde uma série de barreiras travam seu pleno desenvolvimento.
 
O princípio básico dos imóveis pré-fabricados é poder criar uma espécie de “linha de produção”, onde os componentes utilizados na construção são fabricados antes do início da obra e, após concluídos, são transportados para o local onde o imóvel será “montado”.
 
Outra diferença com relação às construções tradicionais são os tipos de materiais. Atualmente os mais utilizados pelas startups de construção modular brasileiras são aço, madeira e concreto, mas há uma infinidade de opções de materiais e a tendência é que cada vez mais surjam novas alternativas, principalmente com uma proposta mais sustentável.
 
O método mais conhecido hoje é o Light Steel Frame, que tem como base o uso de perfis leves de aço galvanizado, em conjunto com fechamento em placas, que podem ser cimentícias, de drywall e até painéis SIP (painéis compostos por um núcleo de espuma rígida, entre dois revestimentos estruturais, geralmente placas OSB), substituindo tijolos e blocos.
 
Apesar de esses materiais serem atípicos nas construções brasileiras, a tecnologia aplicada neles garante resistência, durabilidade e segurança.
 
Esse modelo de construção inovadora traz diversos benefícios, entre eles:
 
Velocidade na construção
 
Segundo dados da Terracotta Ventures, a construção modular consegue ser até 50% mais rápida que a tradicional e até quatro vezes mais produtiva. Um exemplo disso é o Mini Sky City, prédio de 57 andares, que foi edificado em apenas 19 dias na China.
 
Redução de custos
 
As casas pré-fabricadas podem custar em torno de 30% menos que as tradicionais, o que seria uma excelente alternativa para reduzir o déficit habitacional brasileiro, estimado em 5,876 milhões de moradias em 2019 pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic).
 
Sustentabilidade
 
Esses modelos disruptivos produzem menos resíduos, diminuem o impacto de mudanças no clima e tem o potencial de reduzir o desperdício na construção tradicional.
 
Tecnologia e qualidade
 
Como as peças são fabricadas, é possível ter um controle de qualidade mais preciso e padronizado do que as construções tradicionais. Além disso, esse tipo de construção exige menos mão de obra especializada, o que impacta diretamente em todo o processo.
 
Além de tudo isso, tem as vantagens econômicas para o mercado de construção. Estima-se que as construções modulares devem crescer 7,1% por ano, entre 2020 e 2026, ultrapassando US$ 174 bilhões no final do período.
 
Com todos esses benefícios, você deve estar se perguntando por que não temos esse tipo de construção popularizada ainda no Brasil.
 
Bem, os entraves são vários, mas, na minha opinião, a principal barreira é a cultural. De um lado, temos os consumidores com medo de investir em novos formatos construtivos, do outro os próprios profissionais do setor de construção, que tem muita resistência para aceitar mudanças e procurar se modernizar.
 
Ou seja, mesmo que a pessoa se convença de que as casas modulares são uma boa alternativa, terá de lidar com a dificuldade de encontrar mão de obra qualificada e profissionais capacitados (ou dispostos a se capacitar), para executar ou até aprovar projetos e obras como essas.
 
Hoje, uma das maiores dificuldades de quem constrói um imóvel pré-fabricado no Brasil é obter a aprovação regulatória e conseguir financiamento, já que muitas vezes os engenheiros dos bancos, por falta de conhecimento, criam impedimentos para o projeto e não aprovam o financiamento.
 
Diante de tudo isso, o que posso dizer é que enquanto não conseguirmos pensar fora da caixa, enxergarmos novidades como oportunidades e aceitarmos as ideias disruptivas, assim como os países de primeiro mundo, vamos continuar reféns de um sistema arcaico e que custa muito alto para todos, principalmente para os consumidores e o meio ambiente.

*Allan Cardoso é empresário, consultor e mentor do mercado imobiliário à frente de imobiliária, loteadoras e construtoras
 
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