12/06/2018 - 00h33

Gerador é útil, mas pode gerar fumaça, barulho e discórdia

Blog Radar Imobiiário / O Estado de S. Paulo
 
Equipamento acionado em casos de falta de energia torna-se cada vez mais demandado por questões de segurança e comodidade
 
Necessidade, não um luxo. É assim que a médica Aracy Otani, de 69 anos, defende a instalação de um gerador de energia realizada há 15 anos no prédio onde mora, na Vila Mariana (zona sul de São Paulo). Proprietária de um apartamento no 18° andar, a médica já foi muito prejudicada pelas quedas de energia que frequentemente atingem o bairro.
 
“Em uma delas, antes da instalação do gerador, tentei subir ao meu apartamento pelas escadas. Quando cheguei ao 12° andar, passei mal e precisei bater na porta da vizinha para me estatelar no chão”, relembra. “Depois disso, decidi não morar mais em prédio sem gerador.”
 
Embora essencial para o funcionamento do edifício, erros de instalação fazem com que os geradores gerem desconforto e reclamações de moradores e vizinhos como ‘subprodutos’: barulho e cheiro de diesel. A família da musicista Marcela Britto, por exemplo, tenta, desde 2007, mudar a posição do equipamento instalado no edifício onde reside com a família. “O gerador fica no térreo, exatamente embaixo do meu antigo quarto”, conta Marcela. “O barulho é insuportável.”
 
A musicista relata que o ruído do gerador e o cheiro de diesel – combustível que alimenta o equipamento – são percebidos em todos os cômodos do imóvel. “Todos na família têm problemas nas vias respiratórias, como rinite e sinusite. Quando o gerador está ligado, é impossível ficar em casa, porque não conseguimos parar de tossir”, afirma. Segundo ela, em 2016, o gerador chegou a ficar ligado durante 48 horas seguidas. “Eu tinha acabado de voltar de um trabalho no exterior e não conseguia dormir de jeito algum. Eu sentia o chão tremer”, conta Marcela. “Como você vai trabalhar no dia seguinte?”
 
Popularização
 
Comuns em estabelecimentos comerciais, os geradores começam a se popularizar em prédios residenciais. Inclusive tramita na Assembleia Legislativa de São Paulo o Projeto de Lei 85/2016, que prevê a obrigatoriedade de instalação de geradores em prédios com ao menos um elevador.
 
Um decreto municipal da cidade de São Paulo de 2011 determinou que todas as edificações públicas ou privadas com geradores de energia utilizassem equipamentos movidos a combustíveis menos poluentes que o óleo diesel ou instalassem adaptadores em seus equipamentos. O cenário, no entanto, ainda não é realidade.
 
Para incomodados, por enquanto, poucas medidas podem ser tomadas. “O primeiro passo é conversar com o síndico do prédio. Se não houver solução simples, pode ser necessário convocar uma assembleia com os demais proprietários”, explica Hubert Gebara, vice-presidente de administração imobiliária e condomínios do Sindicato da Habitação (Secovi-SP). “Se a assembleia não acatar as reclamações, modificando o local ou o modelo do equipamento, se torna necessário entrar com uma ação na Justiça”, afirma.
 
O advogado Rodrigo Karpat, especializado em direito condominial, concorda que, em última medida, um advogado pode ser acionado. “Ele provavelmente pedirá uma comprovação de que o barulho excede o permitido por lei, que pode ser obtida através da análise de um perito judiciário ou particular”, explica. “Se comprovado ruído excessivo, o condômino pode ingressar com uma ação judicial que solicite a abstenção do uso ou a modificação do local de instalação.”
 
Necessidade
 
Se antigamente os geradores eram usados exclusivamente para garantir o funcionamento de luzes de emergência e elevadores, hoje a quantidade de equipamentos dependentes de energia ininterrupta amplia a demanda por geradores. Com o s equipamentos, um condomínio pode manter funcionando por até 12 horas bombas de água, sistemas de segurança – como alarmes e portões eletrônicos – e iluminação de áreas comuns.
 
“Quando nosso gerador foi instalado, há 30 anos, a administração do prédio só utilizava 8% da capacidade do gerador”, conta Affonso de Oliveira, síndico do Copan, o maior condomínio vertical do País. “A preocupação, à época, era garantir algumas luzes acesas durante a falta de energia. Atualmente, além de manter o funcionamento de 14 elevadores sociais, o gerador mantém ativo o sistema de bombas, que pode ser utilizado por bombeiros em caso de incêndio, e fornece energia para 1.800 pontos de iluminação em áreas comuns. “Em caso de emergência, todos os 5 mil moradores podem descer de forma rápida.”
 
Menos incômodo
 
Além da discussão sobre a implementação de geradores, outra questão que pode surgir em assembleias é o modelo a ser instalado. Patrícia Nahas, síndica de um condomínio horizontal localizado na região do Morumbi, conta que essa foi a discussão central entre os condôminos da propriedade que gerencia.
 
“Havia, de certa forma, um consenso sobre a instalação do gerador, já que o Morumbi é uma região muito arborizada e que registra quedas de energia com frequência”, explica. “O real alvo de debate foi o tipo de gerador que iríamos instalar, se ele seria alimentado a diesel ou por gás natural, uma energia mais limpa.”
 
De acordo com a síndica, o processo de decisão levou aproximadamente seis meses. “Foi uma tarefa de convencimento. O gerador a gás natural custava quase o dobro do convencional”, conta. Por meio de assembleias e reuniões, os condôminos debateram vantagens e desvantagens de cada modelo e acabaram optando pelo gás natural. “Eram várias vantagens: a energia é limpa, o desconforto é menor e é mais fácil manter-se em dia com a legislação”, explica Patrícia.
 
A síndica afirma que o incômodo é mínimo. “O gerador foi instalado em um espaço que já havia sido projetado para isso, próximo à guarita. Ele é carenado, por isso gera menos barulho que os geradores comuns e não tem vazamento de gases”, explica. A manutenção é realizada pelo próprio zelador e não tem custo.
 
Modelos
 
O modelo a gás natural tem se popularizado nos últimos anos como uma alternativa ao geradores movidos a diesel, mais populares no mercado. Enquanto os últimos emitem um maior nível de poluentes, fumaça escura e partículas nos gases de escapamento, os geradores a gás natural se beneficiam do uso de energia limpa. Geradores movidos a gás natural geralmente são instalados em locais que possuem gás encanado, o que elimina a necessidade de abastecimento.
 
Para o presidente da STEMAC, empresa que oferece soluções em energia, Jorge Luiz Buneder, essa diferença nem sempre é realidade. “Existe um forte apelo em se afirmar que o gás natural é um combustível ‘mais limpo’ que o diesel, mas isto não é uma verdade absoluta. Os motores a diesel, impulsionados por rigorosas legislações internacionais quanto a emissões de poluentes, passaram por uma evolução tecnológica em seu sistema de injeção, tornando-se, em muitos casos, menos poluentes que motores a gás natural”, afirma. De acordo com Buneder, capacidade, eficiência e tempo de instalação são muito semelhantes para ambos os equipamentos.
 
De qualquer forma, o especialista ressalta que a melhor forma de garantir o bom funcionamento de um gerador e o menor incômodo possível para os condôminos é tomar cuidado no momento da instalação, que deve ser realizada após um estudo que identificará a necessidade de energia de emergência do condomínio e o arranjo do sistema de distribuição elétrica, além de determinar o porte do grupo gerador e a complexidade da instalação, fatores que incidem diretamente nos custos de sua implementação.
 
“Todos os grupos geradores, independente do combustível utilizado, têm como subproduto da sua operação ruído e gases de exaustão”, diz Buneder. “O que deve-se observar nestes casos é a correta instalação, com dimensionamento de um sistema acústico adequado e direcionamento dos gases de exaustão para locais onde não haja circulação de pessoas e que permitam a sua dissipação.” Os temidos ruídos excessivos, por sua vez, não dependem do combustível utilizado pelo gerador, mas de uma aplicação correta do tratamento acústico.
 
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