13/09/2024 - 10h18
Crescimento do PIB com deflação?
SindusCon-SP
Melhor postura seria reforçar os estímulos para a melhora do ambiente de negócios e o crescimento da produtividade
O crescimento do PIB brasileiro no segundo trimestre veio no teto das expectativas de mercado. Segundo o IBGE, esse indicador teve alta de 1,4% na comparação dessazonalizada com o trimestre imediatamente anterior. Este é o décimo segundo resultado positivo consecutivo nessa base de comparação. O resultado do primeiro trimestre também foi revisto pelo IBGE, passando de 0,8% para 1%. Com isso, o crescimento acumulado em quatro trimestres chegou a 2,5%.
O impacto desse resultado nas expectativas de mercado foi imediato, levando à revisão das projeções para a alta do PIB no ano fechado de 2024 coletadas na pesquisa Focus do Banco Central. Na edição de 6 de setembro, a mediana dessas projeções era de 2,68%. Quatro semanas antes, o mesmo indicador era de 2,2% e, na edição de 5 de janeiro passado, de apenas 1,6%.
O perfil da expansão do período abril-junho deste ano merece uma leitura atenta. Do ponto de vista da produção, o melhor resultado foi o da indústria (1,8%), seguida pelos serviços (1%), enquanto a agropecuária registrou queda (2,3%). No caso específico da indústria, as atividades de utilidade pública (eletricidade, gás, água e esgoto etc.) registraram crescimento de 4,2%, seguidas pela construção (3,5%) e indústria de transformação (1,8%), enquanto as atividades extrativas registraram queda (4,4%), sempre na comparação dessazonalizada contra o trimestre anterior.
Outro ponto de atenção refere-se à ótica da demanda. Assim, no mesmo comparativo, o maior destaque ficou por conta do investimento (formação bruta de capital fixo), com alta de 2,1%. O consumo do governo e o das famílias registraram a mesma variação (1,3%). No comércio exterior, as exportações tiveram alta de 1,4%, enquanto as importações cresceram 7,6%.
Ainda que não se possa caracterizar esse perfil como liderado pelo consumo frente ao bom desempenho do investimento, algumas leituras dos números sugerem que está havendo mais pressão sobre a demanda agregada, com reforço das pressões inflacionárias. Como consequência, tais leituras reforçam as expectativas de que o ciclo de alta de juros que deve começar já na próxima reunião do COPOM poderia ser mais intenso e/ou mais duradouro.
Mas, talvez ainda mais do que o futebol, a economia é uma caixinha de surpresas. Prova disso é que o IPCA de agosto registrou deflação, variando -0,02%. Ainda que esse número seja estatisticamente igual a zero, no cômputo da variação acumulada em doze meses – que serve de parâmetro para a política de juros do Banco Central –, a alta acumulada chega agora a 4,24%, ligeiramente abaixo do limite de tolerância da meta de inflação para o ano (4,5%).
A variação negativa do IPCA em agosto deveu-se à queda de preços em dois dos nove grupos que compõem o índice: alimentação (-0,44%) e habitação (-0,51%). Juntos, os dois respondem por mais de 1/3 da composição geral do indicador. No grupo habitação, a queda foi resultado sobretudo da variação negativa nas tarifas de energia elétrica residencial, que recuaram 2,77% em agosto devido ao retorno da bandeira tarifária verde. No grupo alimentação a maior queda se deu nos preços dos alimentos consumidos no domicílio (-0,73%) que se seguiu à queda de 1,51% registrada em julho. A alimentação fora do domicílio, por sua vez, teve alta de 0,33%, abaixo do observado no mês anterior (0,39%).
Vistos em conjunto, esses números sugerem que 2024 será um ano de mais crescimento e menos inflação. Mas tanto um resultado quanto o outro não caracterizam tendência. As condições para o crescimento sustentado e não inflacionário permanecem incertas, com destaque para a volatilidade cambial, para os níveis de investimento produtivo que permanecem baixos e para o desequilíbrio continuado das contas públicas.
Assim, muito embora valha comemorar – novamente, como em 2023 – a derrota do pessimismo do mercado, bem caracterizado nas projeções baixas de crescimento no início do ano, a melhor postura seria reforçar os estímulos para a melhora do ambiente de negócios e o crescimento da produtividade, estes, sim, fatores capazes de gerar um ciclo sustentado de expansão.
Confira a íntegra da análise elaborada pelo FGV/Ibre especialmente para o SindusCon-SP aqui.