19/10/2020 - 00h14

Crédito imobiliário foi a única modalidade que ganhou fôlego no 1º semestre, diz BC

Valor Investe
 
O Banco Central diz acompanhar com atenção especial a redução nos auxílios emergenciais e o comportamento das dívidas que tiveram suas parcelas postergadas como ações de enfrentamento aos efeitos da pandemia
 
O crédito imobiliário foi a única modalidade que ganhou fôlego no primeiro semestre de 2020, aponta o Relatório de Estabilidade Financeira divulgado pelo Banco Central. O documento mostra que a pandemia provocou arrefecimento do ritmo de crescimento do crédito às famílias e o comprometimento da renda elevou-se, aproximando-se do nível máximo observado em 2015.
 
“Embora todas as modalidades de crédito às famílias mostrem sinais de recuperação a partir de junho de 2020, a expectativa é de crescimento inferior ao previsto antes da pandemia”, informa o relatório.
 
Aproximadamente um quarto do estoque de crédito a pessoas físicas foi repactuado em razão da pandemia, sendo mais da metade referente ao financiamento imobiliário. “Assim como no crédito a empresas, esse expressivo volume pode estar postergando a materialização do risco de crédito para o final de 2020 e início de 2021”, alerta.
 
A tendência de alta do risco das modalidades de veículos e não consignado, destacado no relatório anterior, dissipou-se, informa o BC.
 
A causa do aumento do risco das principais modalidades de crédito às famílias em 2020 está mais relacionada às consequências pontuais da pandemia, que elevaram o risco do financiamento habitacional e do cartão de crédito ao máximo histórico, segundo o documento.
 
Atenção a dívidas
 
A autoridade monetária diz acompanhar com atenção especial a redução nos auxílios emergenciais e o comportamento das dívidas que tiveram suas parcelas postergadas como ações de enfrentamento aos efeitos da pandemia.
 
No documento, alerta que a postergação do vencimento de parcelas da dívida aliviou a liquidez de curto prazo dos clientes e preservou a solvência das instituições financeiras (IFs), “mas pode ter postergado a materialização do risco de crédito”.
 
Para mitigar esse risco, o sistema elevou o volume de provisões e apresentava, em junho de 2020, um dos maiores índices de cobertura de Ativos Problemáticos (APs) da série.
 
Os resultados dos testes de estresse demonstram resiliência e capacidade de o sistema bancário absorver o nível de perdas em todos os cenários simulados.
 
O relatório do BC pontua que o crédito bancário ganhou protagonismo no financiamento às grandes empresas, com menor atuação do mercado de capitais.
 
O crédito às micro, pequenas e médias empresas avançou a dois dígitos, “fato que não ocorria desde 2013”. Esse movimento era observado no início de 2020, antes da pandemia, e manteve esse ritmo ao longo do semestre. “Essa tendência deverá acelerar-se no segundo semestre, em razão dos principais programas governamentais de incentivo que foram operacionalizados no final de junho de 2020”, informa.
 
As repactuações de dívidas com extensão dos prazos aos devedores têm influenciado a melhora no índice de Ativos Problemáticos relacionados às empresas de todos os portes sem, necessariamente, estar havendo queda do risco. “É ainda incerto como essas dívidas repactuadas se comportarão após o fim das carências para pagamento”, diz o relatório.
 
Sobre o risco advindo das grandes empresas, um dos principais pontos de atenção dos últimos anos é que o nível de Ativos Problemáticos apresentou melhora, que deve ser lida com cautela por estar relacionada ao expressivo aumento da carteira.
 
“Os Ativos Problemáticos permanecem elevados e em ascensão”, alerta o BC. Algumas empresas de grande porte tiveram sua classificação de crédito reduzida a partir de abril de 2020 e situação continuará sendo acompanhada, indica a autoridade monetária.
 
O BC nota que a pandemia interrompeu a trajetória de recuperação da capacidade de pagamento e da rentabilidade das empresas não financeiras, “mas não elevou o risco ao nível verificado em 2016-17".
 
Os requerimentos de recuperação judicial permanecem no mesmo nível de 2019, com expectativa de elevação a partir do segundo semestre de 2020.
 
“O BC segue monitorando exposições das empresas à moeda estrangeira, em especial nesse período de elevada volatilidade cambial.”
 
A instituição destaca que a pandemia de covid-19 continua provocando a maior retração econômica global desde a Grande Depressão e que, no Brasil, interrompeu a tendência de recuperação gradual da economia, com um recuo significativo do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre e um declínio sem precedentes no segundo trimestre de 2020.
 
Nesse cenário, a economia brasileira tem operado com a menor taxa básica de juros desde o lançamento do real, pontua a autoridade monetária. “Em análise ampla, pode gerar aumento da volatilidade de preços de ativos e afetar a dinâmica do sistema financeiro e do mercado de capitais.”
 
A ação tempestiva do governo por meio do Conselho Monetário Nacional (CMN) e do BC reforçaram as condições de resiliência do Sistema Financeiro Nacional (SFN) para enfrentar o aumento do risco à estabilidade financeira, decorrente da covid-19, aponta o relatório.
 
“Com isso, os mercados financeiros funcionaram adequadamente, e o balanço do sistema bancário cresceu consideravelmente no primeiro semestre de 2020, com elevado volume de captações e suprimento de crédito para a economia real no ritmo mais acelerado dos últimos cinco anos.”
 
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