20/10/2017 - 00h03

Construção civil dá sinais de uma nova fase

Valor Econômico
 
As prévias operacionais já divulgadas apontam melhora do desempenho de lançamentos e vendas de imóveis no terceiro trimestre e no acumulado de nove meses ante os respectivos períodos de 2016. "Há grande chance de, daqui a algum tempo, ficar claro que o ano de 2017 foi o ponto de inflexão do mercado imobiliário, caracterizando a entrada em um novo ciclo", afirma o coordenador do Índice FipeZap, Eduardo Zylberstajn.
 
No terceiro trimestre, Direcional Engenharia, Even Construtora e Incorporadora, EZTec, Gafisa, MRV Engenharia e Tenda lançaram, em conjunto, Valor Geral de Vendas (VGV) de R$ 3,544 bilhões, com alta de 69% na comparação anual. As vendas líquidas aumentaram 63%, para R$ 3,502 bilhões. Destaque para o crescimento de lançamentos e vendas da MRV e da Tenda - focadas na produção para o programa habitacional Minha Casa, Minha Vida.
 
A EZTec - com imóveis para as rendas média-alta e alta - apresentou melhora operacional expressiva, resultante, principalmente, da comercialização da Torre B do EZTowers para a Brookfield, o que teve forte contribuição para a alta de lançamentos e vendas do setor. Dos lançamentos de R$ 793 milhões da EZTec no trimestre, R$ 68 milhões se referem a projetos apresentados no período, R$ 75 milhões resultam de compra de participação em empreendimento e R$ 650 milhões são da Torre B.
 
Sem considerar o VGV da Torre B, as seis incorporadoras consideradas teriam lançado, em conjunto, R$ 2,894 bilhões, com alta de 38%, e vendido R$ 2,852 bilhões, com expansão de 33%.
 
Na avaliação de um analista setorial, a melhora do desempenho das incorporadoras que atuam na média renda ficou aquém do esperado, como consequência de "as mudanças macroeconômicas ainda não terem se refletido no bolso do consumidor final". "Os lançamentos estão vendendo muito bem. A retomada ocorre mais pela venda de lançamentos do que do estoque", diz o analista, acrescentando que a comercialização de unidades em estoque ainda é um desafio.
 
No acumulado de nove meses, os lançamentos das seis incorporadoras somaram R$ 7,717 bilhões, o que representa aumento de 32,6%. As vendas líquidas cresceram 29,6%, para R$ 8,217 bilhões. Sem considerar a Even, que ainda não divulgou os distratos de julho a setembro, as rescisões caíram 17%, para R$ 1,82 bilhão, no acumulado de nove meses, e tiveram queda de 19%, no trimestre, para R$ 576,29 milhões. Os dados consideram apenas a parte própria das companhias nos empreendimentos.
 
No entendimento do presidente do portal Zap Imóveis, Eduardo Schaeffer, além de mais lançamentos - principalmente na cidade de São Paulo -, a maior procura por terrenos por parte das incorporadoras, o crescimento do número de consultas de imóveis por potenciais compradores e o aumento do interesse de bancos privados pelo crédito imobiliário sinalizam que a inflexão está ocorrendo.
 
"Estamos vivendo um ponto de inflexão, mas o setor ainda não respira sem a ajuda de aparelhos. Quando o mercado imobiliário sair da crise, será muito mais saudável do que no ciclo anterior", diz o presidente do Zap.
 
Schaeffer pondera que, embora o volume de lançamentos esteja crescendo, havia expectativa que o ritmo de expansão fosse mais intenso no segundo semestre. "A instabilidade da política e da economia fizeram com que o mercado não melhorasse tanto quanto se imaginava. Há impacto, por exemplo, na entrada de capital estrangeiro no setor", conta o presidente do Zap.
 
Em setembro, o Índice FipeZap que calcula a média de preços de imóveis anunciados em 20 cidades ficou praticamente estável em relação a agosto, com leve baixa de 0,07%. Os valores atuais representam queda real de 15,79% na comparação com o pico, em outubro de 2014. Em São Paulo, houve redução de 14% em termos reais desde agosto de 2014, momento de pico.
 
"Os preços caíram pouco em relação ao tamanho da tamanho da crise. O ajuste se deu mais na oferta do que nos valores", afirma Zylberstajn, que também é economista da Fundação Instituto de Pesquisas (Fipe). Nos últimos anos, houve forte retração nos lançamentos imobiliários. Zylberstajn diz não esperar que a retomada do setor seja marcada por altas expressivas de preços, uma das marcas do ciclo anterior.
 
Outra razão apontada pelo economista para que não haja elevações acentuadas dos preços é que a demanda por locação de imóveis tende a crescer. Segundo Zylberstajn, há menos interesse pela compra de unidades pela nova geração, o que tende a estimular que fundos de investimento imobiliário (FIIs) - focados em empreendimentos comerciais no país - direcionem investimentos também para imóveis residenciais destinados à locação.
 
Conforme Schaeffer, a chamada geração Millennial prefere alugar imóveis em regiões próximas ao trabalho em relação à compra, enquanto não tem filhos. Com a mudança dessa condição, cresce o interesse pela casa própria.

 
« Voltar