14/02/2019 - 00h20

Castelo erguido por ex-deputado federal no interior de Minas Gerais continua à venda, dez anos depois

O Globo



Era uma vez um castelo. Com 12 torres, piscinas, sauna, lago particular, jardins e um campo de golfe, tudo num terreno do tamanho de 268 campos de futebol. No interior da construção, 36 suítes com hidromassagem, decoração com vários tipos de mármore, adega para 8 mil garrafas, cozinha industrial e dois elevadores. Não, este não é o início de um conto de fadas moderno. Estamos voltando a uma notícia de dez anos atrás, quando o país conheceu o nada humilde castelo da família do então deputado federal Edmar Moreira, no distrito de Carlos Alves, zona rural do município de São João Nepomuceno, na Zona da Mata Mineira. 
 
Na época em que a informação veio a público, o chamado Castelo Monalisa estava à venda, avaliado em mais de R$ 20 milhões. Uma década depois, o lugar continua à espera de um comprador. Está anunciado no site de uma imobiliária que, por telefone, confirmou a oferta do bem, mas comunicou que só informa o montante pedido pelo proprietário mediante carta de interesse de um possível comprador. Um profissional da área estimou o valor de mercado em R$ 60 milhões. O "Blog do Acervo" tentou contato com o agora ex-parlamentar, mas sem sucesso.
 
 
Em fevereiro de 2009, Moreira tomou posse como corregedor da Câmara dos Deputados e gerou controvérsia ao afirmar que parlamentares não podem investigar e punir seus colegas de Casa devido ao que ele classificou como “vício insanável da amizade”. Dias depois, ainda no início daquele mês, o "Estado de Minas" publicou uma reportagem com fotos e descrição do imóvel à venda, seguido por toda a imprensa nacional. O GLOBO estampou uma foto aérea da propriedade em sua primeira página do dia 5 de fevereiro, informando que o lugar não constava da declaração de bens do então deputado federal.  
 
De acordo com aquela edição do GLOBO, na declaração de bens do filho de Edmar, o ex-deputado estadual Leonardo Moreira, ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de Minas, em 2006, ele informava possuir um terreno na área rural de Carlos Alves no valor de R$ 3,1 milhões. Na de Edmar Moreira, aparecia um imóvel no valor R$ 17,5 mil, no mesmo distrito, em uma praça a cerca de dois quilômetros do castelo. Ainda segundo a reportagem, o então deputado federal havia declarado bens de aproximadamente R$ 9,5 milhões, incluindo ações, imóveis, veículos, aplicações financeiras e dinheiro em espécie.
 
 
Na época, Edmar Moreira dizia não ver motivo para escândalo, alegando que construiu o castelo de 1982 a 1990, antes de assumir seu primeiro mandato, em 1991, e que depois passou a propriedade do imóvel a seus filhos, Leonardo e Julio Moreira. Mesmo assim, no dia 8 de fevereiro de 2009, o parlamentar do DEM não sucumbiu à pressão da imprensa, da opinião pública e de colegas e renunciou aos cargos de corregedor e vice-presidente da Mesa Diretora da Câmara. 
 
Em entrevista à TV Globo em fevereiro de 2009, Leonardo Moreira, na época deputado estadual, declarou que a intenção de seu pai era criar um hotel de luxo no castelo, para levar turismo de alta renda à região. Quando as obras do imóvel tiveram início, em 1982, havia o projeto de construir um aeroporto nas proximidades, o que facilitaria a chegada de voos particulares. No entanto, o terminal não saiu do papel, e as obras do castelo também ficaram inacabadas.
 
 
Em 2014, o site de notícias "G1" revelou que o imóvel continuava à venda, na época por R$ 40 milhões. Segundo um corredor ouvido pelo "Blog do Acervo", a dificuldade para vender a propriedade pode ser associada a dois fatores: uma retração no mercado de hotéis e resorts em Minas Gerais e a publicidade negativa que foi gerada em torno do castelo desde 2009.
 
Naquele ano, Edmar Moreira já estava em seu quarto mandato na Câmara dos Deputados, mas não conseguiu se reeleger em 2010. Só voltou à Casa em 2014, ao assumir uma cadeira como 8º suplente da coligação do PTB, seu partido na época. 
 
No site "Corretores Associados", o Castelo Monalisa é descrito com detalhes, exaltando características que poderiam ser exploradas por uma empresa do ramo da hotelaria. "Reúne em seu conjunto arquitetônico mais de 36 suítes, todas equipadas com sistema central de ar condicionado e controle remoto individual em todos os ambientes. Todas as suítes dispõem de closet e sistema individual de ar condicionado possuindo design diferente uma das outras, o que torna o empreendimento totalmente diferenciado de tudo o que já foi construído no país". O texto diz ainda que "o prédio principal ainda não se encontra mobiliado e certos detalhes do acabamento ainda não foram feitos, pois na eminência de sua comercialização para a rede hoteleira, empresa ou até mesmo pessoa física, certamente o empreendedor faria a decoração interna que mais lhe aprouvesse".

 
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