08/06/2021 - 08h54

Casa: Os novos significados

Mundo do Marketing / Ana Paula Krainer*
 
As mudanças de comportamentos que transformaram nossas casas em grandes hubs durante a pandemia.
 
Há pouco mais de um ano nossas casas passaram a ocupar um papel diferente nas nossas vidas. Alguns costumes considerados normais foram ressignificados e outros, que eram ignorados, passaram a ser experimentados. Como profissional de marketing do mercado de bens de consumo, me debrucei nesses novos hábitos e divido com vocês 5 grandes mudanças no conceito de “Casa”.
 
1- Casa = Refeições
 
Além do conceito de lar, uma das grandes mudanças no significado de casa está relacionada às refeições. O que se observou nesse período de pandemia é que, o que antes cozinhar era uma responsabilidade geralmente de uma única pessoa, passou a de ser dividida entre vários membros da família. E o impacto disso é não apenas nos novos itens que passam a fazer parte da cesta de compras desses lares, ou na ida muito menor aos restaurantes, mas da maneira de que os consumidores gostariam de se verem refletidos nas comunicações e na maneira de se relacionar com as marcas.
 
Várias categorias viram suas dinâmicas mudarem, como por exemplo, a performance de publicações e sites de receitas foi impulsionada nas redes sociais, com mais de 84 milhões de interações em todas as redes entre os mais de 59 milhões de usuários. Quando se está cansado de cozinhar, Ifood, UberEats e Rappi aparecem como líderes entre os apps de delivery de comida para ajudar nas refeições dentro de casa, além de novos players que estrearam em 2020 se tornaram destaque nos serviços como 99 Food e Cornershop.
 
Vale mencionar também que, cozinhar e comer em casa junto com a família e pessoas queridos passou a inspirar conversas mais significativas, trazendo uma grande ressignificação para esse ritual.
 
2 - Casa = trabalho
 
Além da alteração dos hábitos da alimentação dentro dos lares, nossa casa também passou, para muitas pessoas, em um piscar de olhos, nosso ambiente de trabalho. Vimos nossos trabalhamos invadirem nossas casas, com uma mudança na dinâmica e composição dos lares. Quartos de crianças transformados em escritórios, mesas de trabalho colocadas nos quartos para criar o home-office, aumento da capacidade e velocidade da internet se tornaram situações corriqueiras, trazendo um novo papel para a casa.
 
3 - Casa = diversão
 
A casa também passou a ser o local da nossa diversão e entretenimento e com isso, o consumo dos mais variados tipos de telas. Segundo o relatório do “Trends: Comportamento do Consumidor 2021”, os serviços de streaming registraram o segundo maior Ibope do Brasil, ficando apenas atrás da Rede Globo. O interesse por games também foi exponencial e viu o mercado crescer em 3 meses o que se esperava em 2 anos, segundo a consultoria Comscore, especializada na medição de audiência. Somada ao aumento do consumo das telas, categorias de alimentos indulgentes, como chocolates e salgadinhos também tiverem crescimento de duplo digito nesse período quando analisado o consumo dentro de casa. Tudo compõe um momento para desopilar, se divertir e trazer um escape físico e mental para esse período, tudo, dentro de casa.
 
4 - Casa = saúde física e mental
 
E falando desse tema, um 4º papel fundamental que a casa assumiu nesse durante a pandemia, é que nossos lares passaram a ser o local para cuidar da nossa saúde física e mental. Vimos as casas se transformarem em consultório de terapia, o ambiente da meditação, do relaxamento e também, a academia, além do local de prática de outros exercícios físicos. De acordo com o Google Trends, em 2019 a busca por atendimento psicológico era de 63%, número que pulou para 90% em 2020, a maioria desses atendimentos feitos online, em casa. Houve também, inédito aumento de buscas no Google pelo termo “meditação”, 43% maior em 2020 em comparação com dezembro de 2019, o maior índice em dezesseis anos de levantamento. No Mercado Livre, as vendas da categoria “Fitness e Musculação” subiram 132%. Pequenas academias foram montadas dentro de casa, evidenciando que a saúde física também foi pauta entre a população e agregando um novo papel para os pares.
 
5 - Casa = em outro lugar
 
Você mesmo ou provavelmente conhece alguém que mudou para o interior, uma cidade menor, ou saiu de um apartamento pequeno super bem localizado para morar em uma casa maior, em uma região mais distante.
 
Devido ao trabalho remoto, houve uma descentralização da mão de obra das capitais. A procura por moradias no interior foi três vezes maior em 2020 do que no ano anterior. Uma das maiores imobiliárias de São Paulo, a Lello, que atende as classes média e alta, identificou salto de 40% de interesse por casas amplas com cômodos para home office. Apartamentos em bairros badalados, próximos a lugares repletos de serviços, bares e supermercados, tornaram-se desinteressantes. Endereços mais amplos e perto de áreas verdes são os preferidos agora, mudando também a funcionalidade das nossas casas.
 
E pensando no seu negócio, quais são os principais impactos de termos nossas casas como um grande hub? Você já redirecionou a sua marca para atender a esses novos comportamentos e significados? 
 
* Ana Paula Krainer, executiva de marketing com 17 anos de experiência em multinacionais como Mondelez, PepsiCo e Coca-Cola com atuação no Brasil, América Latina, Estados Unidos e times globais. Atualmente, lidera as marcas globais de sabores da Coca-Cola.
 
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